[Treino Individual] Naoko Yoshikawa

 Lá estava eu, parada defronte para o espelho da velha casa onde estava abrigada, a bandana pendia em uma das minhas mãos enquanto olhava cada um de seus detalhes mínimos, lembranças do dia em que recebi a mesma ao me tornar uma gennin vieram em minha mente fazendo com que um sorriso bobo tomasse conta de meus lábios por um momento. Fitei meu reflexo no espelho embaçado no mesmo momento em que levava a bandana ao ombro esquerdo e prendia a mesma conferindo para que não soltasse, aquele seria um dia longo, talvez cansativo por conta dos treinos, mas eu estava disposta a dar tudo de mim... É o meu jeito de fazer as coisas.

 Passei correndo pela porta de casa, meu destino atual seria o campo de treinamento, minhas expectativas eram grandiosas e sem nem mesmo entender direito o motivo sentia que a partir dali tudo poderia mudar, talvez por ser o momento em que iria conhecer meu Sensei atual ou simplesmente por aprender algo novo que seria útil em minha jornada. 

 Poucos minutos haviam se passado até o momento em que coloquei meus pés dentro do campo de treinamento, o lugar estava vazio de mais para um horário como aquele, talvez o espaço tenha sido reservado pelo sensei sem que eu soubesse ou realmente os ninjas não estavam muito "afim" de se prepararem. Fiquei ali, parada olhando o nada enquanto esperava, não sabia quanto tempo ele poderia demorar e por isso acabei por levar um dos meus livretos junto de mim.

 Me perdi na leitura até o momento que um rolo de pergaminho deslizou até meus pés e a voz de um homem soou baixo logo de frente comigo - Yoshikawa, sou Zan serei seu sensei, até segundas ordens deixarei que treine o Kuchiyose e espero que ao menos se saia bem nesse jutsu básico - Ele nem mesmo esperou que eu dissesse uma única palavra e sumiu me deixando novamente sozinha com meus pensamentos e um pergaminho instrutivo que rapidamente tomei em mãos para estuda-lo com atenção.

 Certo. Não era algo tão complicado de se fazer então deixei o pergaminho em um canto  onde não me atrapalhasse e me preparei para dar inicio ao Jutsu. Primeiro levei dois dos dedos da mãe direita até a boca fazendo um corte não tão profundo com a ajuda dos dentes, logo em seguida vieram os selos. Javali,cão, pássaro, macaco e carneiro, todos feitos em um mesmo ritmo com a mesma força de vontade até que com a palma da mão cortada toquei o solo e no espaço uma nuvem de fumaça tomou conta de tudo. Tussi por conta da fumaça que logo foi se sumindo e em minha frente uma naja se ergueu, pulei alguns passou para trás tentando entender oque havia acontecido até que alcancei o pergaminho e em uma leitura rápida entendi o motivo da aparição do réptil.

 O Contrato já estava formado, de agora em diante eu teria a capacidade de trazer cobras em meu auxilio, mas para isso teria de treinar....Treinar muito.

Minha respiração estava ofegante, meus pés já começavam a doer por conta do esforço e pela primeira vez em tempos, meu corpo começava a reclamar e pedir por um pouco de descanso nem que fosse o mínimo ou caso continuasse as dores futuras seriam piores e meu tempo de recuperação poderia custar caro, portanto, resolvi parar com a corrida pela vila assim atendendo ao meu corpo. Escalei algumas das casas perto do centro comercial de Suna, o sol já começava a se por tornando a visão do lugar ainda mais bela, o vento soprou de encontro ao meu rosto fazendo com que meus cabelos dançassem ao vento, a brisa tornou o momento confortante e assim meu corpo começou a relaxar, a respiração voltava ao normal enquanto me sentava no teto do edifício onde me encontrava atualmente. Com as costas apoiadas em uma das grades de proteção fiquei ali analisando tudo o que estava acontecendo comigo, pensando no como os meus dias estavam se tornando cada vez mais imprevisíveis e emocionantes além de que as possibilidades de que os perigos aumentassem fazia meu coração acelerar por um instante, talvez a sensação de risco me deixasse mais animada do que se era de esperar e simplesmente gostava disso, não ter “medo” dos riscos sempre fora uma das minhas características que mais me encantava e agora ainda mais pois ao me graduar na academia pensei que seria perdida no momento em que me tornasse uma “ninja”.

O sol agora alcançara a altura dos meus olhos, sua luz refletia diretamente neles fazendo com que um brilho de felicidade fosse visível, suspirei alto enquanto encolhia as pernas e abraçava os joelhos apoiando o queixo nos mesmos logo em seguida, minha mente agora viajava longe como se corresse no ritmo do som, várias lembranças me vinham fazendo com que um pequeno sorriso bobo surgisse no canto dos lábios em alguns momentos até que da mesma forma que vieram rapidamente partiam dando lugar a uma outra, nisso alguns minutos se passavam até que finalmente o dia do exame final da academia ninja da vila se fixou em minha cabeça:

¹ ' Fechei meus olhos, respirei fundo para concentrar o chackra e após realizar os selos manuais veio o efeito do Jutsu. Agora de olhos abertos o Instrutor me encarava com vontade, talvez tentando encontrar algum erro na minha “apresentação final” para que pudesse me recusar assim me obrigando a participar novamente da academia por um bom tempo, não iria me deixar abalar e então lhe encarei também até que me dirigiu a palavra - Yoskikawa, você veio durante esse tempo se esforçando bastante e vejo em tu uma grande shinobi, portanto, espero que eu não esteja errado caso o contrário tomarei por conta própria de lhe retirar deste mundo - Ele bufou e lançou a bandana com o símbolo de suna entalhada na plaqueta aos meus pés antes de das as costas e se retirar me deixando sozinha com meu sentimento de vitória.'

Finalmente a lembrança se permitira ir embora de uma vez só me deixando novamente olhando para o por de sol que começava a sumir, um riso baixo escapou por entre meus lábios ao tentar adivinhar o que o Instrutor diria se me visse dar o duro que estou dando nos tempos atuais, provavelmente não iria dar-me elogios e sim dar algumas daquelas olhadelas e rosnados que costumava dar na academia, mas agora não importava pois tinha outra pessoa a quem ao menos tentar impressionar. Meu novo sensei não era como o Instrutor, costumava falar um tanto razoável e fazer algumas brincadeiras as vezes desnecessárias, mas continuo a achar que é um bom homem, menos nas vezes em que some e me deixa falando sozinha... Ah, droga. Tempo de mais devia ter se passado, o sol já se fora em bora apesar de o céu continuar um pouco claro enquanto as primeiras estrelas apareciam, havia me esquecido do treino noturo e provavelmente Zan-sensei faria o favor de me arrancar a cabeça com as próprias mãos se me atrasasse ainda mais então com as energias restauradas e o corpo descansado me levantei em um salto rápido, desci o edifício em pulos cuidadosos e sem mais demoras ou sem mesmo olhar para trás como normalmente fazia quando ainda era mais nova me  coloquei a caminho do local de treinamento, minhas passadas começaram a ficar cada vez mais rápidas até que me coloquei a correr enquanto o vento me cortava e os cabelos ricocheteavam no rosto então em minha cabeça recitava as mesmas palavras“ Vamos mostrar do que somos capazes, vamos mostras do que os Yoshikawa's são feitos...”

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Alguns bons minutos de corrida haviam se passado, já conseguia avistar o local de treinamento a alguns metros de distância então finalmente diminui meu ritmo enquanto tentava acalmar a respiração e alcançar seu estado normal para que poupasse meu folego para o treino que viria em seguida, o que eu faria ainda não conseguia descobrir, mas de todo meu coração desejava que fosse algo que realmente me chamasse a atenção pois assim conseguiria prender minha atenção no treinamento com mais facilidade e esquecer de que ainda não havia me alimentado direito e que meu estômago roncava como um porco. Algumas passadas faltavam quando Zan apareceu em minha frente, estava distraída tentando retirar os cabelos que sismavam em entrar em minha boca e em meus olhos por conta do vendo e acabei por me chocar contra ele - Aai!- como que automático, no mesmo momento em que me choquei contra ele meu corpo se repeliu para trás a tempo de colocar em uma forma mais apresentável sem que fios de cabelo participassem de minhas falas, Zan-sensei contorceu os lábios e me encarou por um momento, não conseguia captar seus pensamentos e nem mesmo saber seu estado pois em sua face nenhuma expressão se fazia presente, ele parecia “vazio” e seu silêncio reforçava mais ainda essa estranha sensação que me colocava em uma situação de medo até mesmo de me movimentar até que o vento soprou forte e finalmente ele resolveu acabar com o silêncio da noite que estava começando - Yoshikawa, você está extremamente atrasada - Ele cruzou os braços e de mim se escutou um suspiro como sinal de arrependimento, minha mente começara a funcionar rápido tentando formular uma justificativa plausível para o acontecimento pois simplesmente dizer que havia perdido o horário pois estava ocupada de mais relembrando o passado não me parecia algo muito descente e útil para se dizer naquele momento, levantei a cabeça e prendi os cabelos no topo da mesma e quando me preparava para dar a palavra com a desculpa já formulada Zan se apressou e ainda de braços cruzados dizendo - Como quer se tornar forte se nem mesmo tens a responsabilidade de chegar no horário marcado?!Tudo bem, vou relevar desta vez, mas espero que não volte acontecer coisas como essa novamente enquanto eu for ser sensei...Estou entendido Naoko? - Engoli seco, ergui a cabeça e fiquei da forma mais respeitosa possível - Sim Zan-sensei, mas peço minhas sinceras desculpas pelo meu atraso pois acabei me distraindo com... - Não pude terminar minha frase pois no mesmo momento o homem me deu as costas e começou a caminhar rapidamente rumando a área de treino que agora estava mais perto, sem muito demora me coloquei a segui-lo sem dizer uma única palavra a mais, talvez por vergonha ou até mesmo em agradecimento por não ter recebido qualquer tipo de punição, talvez por puro medo.

Poucos passos foram dados até que chegamos ao espaço de treinamento, tirei o blusão que bloqueava o livre movimento dos meus braços e deixei o mesmo caído em um canto onde eu poderia achar depois, olhei em volta verificando se mais algo se encontrava presente e concluí que não, na maioria das vezes sempre havia um bisbilhoteiro por ali e e muitas vezes me recusava treinar na presença de tais pois de uma maneira que ainda não conseguia explicar não gostava de me fortalecer perante o olhar de outros, mas isso teria de mudar com o tempo portanto não me importaria com aquilo no momento, me coloquei próxima ao centro do local fazendo alguns alongamentos comuns que aprendi quando ainda frequentava a academia, Zan estava de costas para mim enquanto me preparava e por conta disso não lhe dei muita atenção até o momento que uma risada ecoou pelo local fazendo com que eu parasse com tudo o que estava fazendo e focasse minha atenção no dono da risada, agora sensei estava olhando para mim com a cara de zombeteiro, não sabia dizer o motivo de sua risada repentina e estava pronta para perguntar lhe por que tal se fez até que o mesmo se deu o trabalho de adiantar - Naoko, não vai precisar disso no Jutsu que vai treinar hoje minha cara - Novamente sua risada foi escutada mas desta vez em um tom mais baixo e tranquilo, um sorriso torto de constrangimento surgiu nos meus lábios por um momento, não sabia o que fazer após tal acontecimento portanto caminhei até próximo dele. Nas mãos o homem mantinha segurados alguns rolos de pergaminhos pequenos fechados, provavelmente ali estaria os jutsus que iria ao menos me esforçar para aprender, queria arrancá-los das mãos dele e devorar com meus olhos o conteúdo que traziam, mas não seria nada educado de minha parte então tudo que me permiti fazer no momento era apenas perguntar - Hum... Zan-sensei, os meus Jutsus estão ai é? - Meus olhos se encontravam fixos nos pergaminhos até o momento que Zan suspirou e assentiu com um balançar de cabeça, caminhamos até o centro do espaço novamente e lá ele depositou 3 dos rolos que tinha em mãos enfileirados no chão, fiquei tentada em abrir um por um, porém, resolvi esperar pelas instruções do sensei, sentei defronte para a fileira e encarei Zan por um tempo,intercalando entre a fileira e ele.

Pouco tempo se passou até que o homem resolveu dar inicio - Bem, sim esses são os Jutsus que quero que treine hoje, mas aqui temos dois jutsus que precisara de seu companheiro cão pois se trata de um Jutsu especial do seu clã e o outro é um Jutsu de invocação Ele fez um pausa como se estivesse buscando alguma coisa que estava esquecendo ou talvez tentando lembrar algum detalhe que não poderia ser deixado de lado, aproveitei a oportunidade para pegar um segundo pergaminho da fileira em mãos e brincar com o mesmo por um tempo até que o som da voz de Zan voltou a ecoar - Bom, como já escolheu o pergaminho que deseja primeiro sem que eu tenha de lhe mandar faça me logo o fazer de abrir e ver qual jutsu foi o "premiado" do momento - Sem mais delongas rompi o lacre improvisado que mantinha o pergaminho enrolado em bom estado e rapidamente abrir o mesmo em um espaço desocupado do chão ao meu lado e no mesmo instante comecei a ler as inscrições. Se tratava de do jutsu de invocação. Em minha mente voltara a lembrança da pequena naja surgindo com alguns símbolos após efetuar o Kuchiyose no Jutsu...Ah sim, o contrato de sangue. No pergaminho continua inscrições e informações sobre as possíveis invocações de especies de cobras que eu poderia ao menos tentar invocar, algumas pareciam tão complicadas que nem mesmo de dei trabalho de começar a ler então fiquei presa apenas na primeira pois era referente a uma das mais fáceis invocações que eu poderia fazer e sendo assim a inicial. Peguei a inscrição em mãos e olhei diretamente para Zan com a esperança de que o mesmo me desse as instruções seguinte e como resposta o mesmo me lançou um olhar calma antes de falar - Como já deve ter percebido minha cara você firmou um contrato com as cobras, é uma boa aliança até, mas espero que saiba lidar com ela e que se aperfeiçoe bastante. Ai você esta encontrando o Jutsu mais básico da invocação de cobras, portanto, quero que treine ele o suficiente para que se fixe antes de partimos parar um outro Jutsu entendido?- Apenas assenti com a cabeça, me levantei e com um suspiro me afastae de Zan mas antes me permiti lhe direcionar a palavra - Sensei... Eu vou conseguir- Um sorriso torto quase imperceptível estampou um canto dos lábios dele antes que o mesmo desse inicio a sua leitura de algo que eu não conseguia ler o titulo.

Deixei o pergaminho em um canto próximo de mim, agora estava pronta para  começar a treinar. Primeiro o corte no dedo indicador feito com  a ajuda dos dentes, o procedimento seria basicamente o mesmo do Kuchiyose, portanto não se tratava de algo que jamais havia feito e por esse fato  seria um tanto mais fácil de se começar ao menos. Com o dedo cortado e o sangue começando a pingar respirei fundo e limpei a mente deixando apenas o desejo da cobra desenhada no pergaminho se moldasse assim como eu moldava meu chacka com muito cuidado e atenção, minha respiração estava controlada o suficiente então logo vieram os selos, todos feitos na mesmas harmonia, na mesma vontade e no mesmo tempo como se fosse acordes de uma música que eu tocava com graça, meus pulmões prenderam o ar no momento que a palma de minha mão cortada alcançou o solo senti minhas veias tremerem assim como o resto do meu corpo, um nuvem de fumaça gigantesca tomou conta do lugar e automaticamente fechei meus olhos...

Eu ainda de olhos fechados senti a movimentação ao meu lado,movimentei a mão direita e encontrei a estatura de um homem portanto acreditava eu que se tratava de Zan, não conseguia saber o motivo de ter indo parar ao meu lado tão rápido e nem mesmo o porque já que nunca viera a ficar tão próximo enquanto eu treinava, abri meus olhos e a fumaça ainda se fazia presente, porém, ia diminuindo aos poucos. Alguma coisa começou a se arrastar pelo chão da área de treino, passou ao meu lado e deslisou até meu campo de visão ainda enfumaçado, o barulho que fazia ao se arrastar me dava nos nervos causando uma irritação grandiosa, mas tentei me controlar para não tampar os ouvidos e xingar muito seja lá o que fosse. A fumaça sumiu completamente, na minha frente se erguia uma imensa cobra branca de olhos amarelos, sua cabeça se estendeu em minha direção e eu senti que meu corpo começara a se endurecer, talvez de emoção ou realmente de medo, Zan-sensei se colocou a distância em passos cuidados, mas antes consegui ler em seus lábios os dizeres " Demonstre calma e respeito e ela ira te escutar", meus olhos se fixaram aos da imensa cobra, sua língua se estendeu em minha direção e evitei desviar-me, de inicio era algo um tanto nojento mas em questão de minuto me acostumei com a sensação, logo em seguida estendi minha mão lentamente até sua grande cabeça e lhe toquei a "pele" gelada e de textura escamosa, lhe acariciei por um momento e em seguida sussurrei sem nem mesmo saber - Volte agora- Do nada a cobra sumiu na mesma nuvem de fumaça e o homem colocou uma da mãos no ombro - É minha cara aluna, vocês vão se dar bem...

OBS: ¹ Representa a lembrança que passava pela cabeça de Naoko

Kuchiyose • Jya
(Invocação • Cobra)
Quem Usa: Orochimaru, Sasuke Uchiha, Kabuto Yakushi, Suigetsu Hozuki e Anko Mitarashi
Rank: C
Descrição: Cobras são grandes e muito úteis. Fortes, pelo seu tamanho. Poderosas, com veneno. E podem proteger pessoas dentro de sua boca. Essas e outras razões fazem dela uma grande ajuda na batalha

P.O.V. Samantha

O que posso dizer? Eu realmente estava super aciosa, não conseguia permanecer parada no mesmo lugar por muito tempo, já havia andado por toda a casa desde o meu quarto até o porão, mas nada me continha, não era possível me distrair ou preocupar com coisas bobas que normalmente tinham total atenção, mas qualquer uma em meu lugar ficaria assim pois que fique entre nós… Não é todo dia que fazemos dezoito anos e a possibilidade de receber como presente de aniversário a viagem de seus sonho. Tudo que eu precisava fazer agora era esperar, esperar e esperar até anoitecer para que meus pais chegassem do trabalho, já conseguia ver minha mãe dizendo “ Aaah minha bebê cresceu tanto!” enquanto alisava meus cabelos ou meu pai dando seus tradicionais abraços sem muita emoção seguido de algum texto pronto falando sobre como é finalmente ter dezoito ou como a partir de tal “grandes responsabilidades” penderiam sobre mim, mas isso não importaria pois o que eu realmente iria escutar que me deixaria contente era “ Sammy, parabéns! Vamos te pagar a viagem para a Cidade do México!”, porém, até lá eu teria de dar um jeito de me conter e a única solução seria conversar com Abby para que ela ao menos surtasse junto comigo.

Corri até a cozinha passando pela sala em um desespero tão grande que acabei por bater o dedinho mindinho do meu pé no aparador que se encontrava no intermédio sala-cozinha fazendo com que uma dor insuportável me tomasse por um tempo assim como a vontade de gritar e xingar aquele maldito móvel inútil que só continuava ali pois mamãe sismava em dizer que se tratava de uma herança história e que mais ninguém nos Estados Unidos tinha um nem mesmo parecido, mas isso iria ficar para mais tarde pois já havia alcançado o telefone na parede da cozinha e os números do celular de Abby foram rapidamente digitados e em questão de segundos já escutava a voz rouca de quem provavelmente estava dormindo da mesma, porém, não iria perdes tempo em lhe irritar desta vez:

- Aaaaaaaaaaaaaabby vem pra minha casa A-G-O-R-A! - Não permiti que a garota me respondesse nada e continuei - Tenho que compartilhar algo urgente então é bom você realmente correr ou serei obrigada até espancar.

Antes de colocar o telefone no gancho deixei minha breve risada escapar por entre meus lábios, já era algo extremamente normal para nós duas nos tratarmos daquela forma pois nossa amizade não era algo repentino e sim um sentimento germinado desde nossa infância, ou melhor, nossa amizade começou por nossas mães quando ainda novas e ai sim passou para nós, mesmo eu sendo um ano mais velha de Abby ela sempre foi a pessoa que me compreendia ,muitas vezes até melhor que meus próprios pais e se existia alguém importante nesse mundo para mim fora minha família era ela. Sai da cozinha em passos rápidos e passando o mais longe possível daquele aparador assassino de dedinhos indo em direção ao sofá de couro da sala de televisão com a intensão de esperar a chegada da garota que como eu havia pedido não iria demorar ou pelo menos eu esperava que não demorasse, liguei a televisão e como por coincidência passava no canal jornalistico reportagens sobre a Cidade do México, talvez eu devesse assistir aquilo para saber o que realmente estava acontecendo por lá ou não pois se houve noticias ruins eu acabaria ficando um tanto inconfortável e meus pais logo saberiam acabando assim como os meus planos então tudo que fiz foi mudar de canal rapidamente indo direto para o musical onde a voz de Lorde cantando Royals se arrastava por toda a casa enquanto uma vontade de cantarolar junto e dançar tomava conta de mim. Me levantei e meu corpo se mexeu ao ritmo da música enquanto a letra da música escapava por meus lábios…

- And we'll never be royals,It don't run in our blood…

Me preparava para continuar o refrão quando a campainha tocou, ainda estava dançando ao ritmo da música enquanto caminhava até a porta tendo a certeza de que era Abby portanto nem mesmo me preocupei em olhar pelo olho mágico da porta e fui logo abrindo a porta de madeira decorada pelos enfeites desnecessários de minha mãe e sorri puxando a menina para dentro de casa balançando os braços dela no ritmo da música no momento em que eu ainda cantava:

- That kind of lux just ain't for us… we crave a different kind of buzz - Finalizei junto com a música enquanto Abby me olhava com cara de quem estava assistindo um show de talentos mal feito fazendo com que eu risse da careta que se formou - Eeeeeeei Biby, cantei super bem né?

- Claro, claro Sammy, cantou até melhor que a Lorde se pararmos para analisar - Sua ironia era visível de mais, porém, não me importei apenas abracei ela apertado e em seguida me joguei no sofá desligando a televisão e fazendo sinal para que ela me seguisse. Abby estava com cara de quem não estava entendendo o motivo de meu chamado tão urgente e sem muita explicação, ela se sentou na ponta do sofá e me deu um tapa na perna - Vamos lá coisa chata, pra que me acordou desesperada ?

- Simples meu bem, como hoje é meu aniversário de dezoito e como eu te disse a um tempo atrás estou extremamente louca pra ganhar aquela viagem para Cidade do México - Ela havia arqueado uma das sobrancelhas enquanto eu falava - E Acho que meus pais vão me dar a viagem ebaaaa !

Comecei a pular no sofá como uma louca enquanto ela continuava sentada me encarando como se aquilo que eu estivesse acabado de lhe contar não tivesse importância nenhuma, como se não fosse mudar nada em nossas vidas, como se fosse algo inútil, como, como… Aaaah ela sabia que aquele viagem realmente era importante para mim e que a muito tempo eu vinha tentando convencer meus pais a me da-la e posso garantir que não uma missão nada fácil convencer o senhor e senhora Monreau de que sempre fui alguém merecedora, que era um dos melhor presente que ambos poderiam me dar além de que eu prometeria que começaria a agir melhor se a fizesse. Me lembro do dia em que coloquei meus pais sentados de frente ao telão do auditório do colégio com a permissão do diretor e acabei montando uma palestra explicativa mostrando que haveria mais prós do que contras na viagem além de mencionar que eu seria alguém mais feliz se eles ainda me permitisse levar Abby comigo...Espera! Eu havia esquecido que havia pedido para ela ir comigo e nem mesmo cheguei a comentar isso com ela, talvez isso fizesse com que ficasse animada junto comigo ou que me achasse louca por não ter perguntado se queria ir comigo antes de propor algo do tipo para meus pais, mas agora era tarde e teria de contar para ela:

- E esqueci de te contar uma coisa também - Parei de pular e me ajoelhei no sofá ao lado dela, ela estava com cara de quem sentia medo das minhas próximas palavras - Eu pedi para meus pais que você fosse comigo gatinha…

- VOCÊ FEZ OQUE ?! - Ela ficou de pé no sofá fazendo com que eu me levantasse também - Aaaah não acredito! Vamos sair em viagem juntas...Mas espera, será que eles falaram com meus pais?

- Não faço a minima ideia, mas eles vão ter que deixar - Abracei ela e ambas pulamos juntas no até cansarmos - Vai ser a melhor viagem de nossas vidas…

Vai ser a melhor viagem de nossas vidas. Essas palavras mudariam no futuro.

[...]

Eu e Abby nos encontrávamos vasculhando meu closet com a esperança de encontrar as roupas mais bacanas que eu poderia levar para a viagem no momento que escutei o barulho da garagem se abrindo, olhei para ela e depois para o relógio que indicava dez horas da noite em ponto, meu coração acelerou ao escutar a voz de meus pais me gritando da sala, Abby soltou um riso seguido de um “Chegou a hora” no momento que abrir a porta do quarto e corri com ela escada abaixo.  Meus pais estavam sentados no sofá, um do lado do outro com sorrisos que eu nunca tinha visto antes, meu pai já havia soltado a gravata que agora pendia com um ar mais “descolado” em seu pescoço, minha mãe ainda tinha os cabelos loiros presos em seu coque no topo da cabeça fazendo com que sua beleza jovial fosse quase palpável enquanto seus olhos azuis se destacavam com o lápis preto que costumava passar antes de ir para o consultório e tenho quase certeza de que muitos de seus clientes lhe fantasiavam de alguma forma enquanto ela se ocupava em tratar das obturações e canais que tinha de fazer nos dentes de cada um todos os dias, uma vez quando ainda tinha dezesseis anos fui visita-la em horário de trabalho e escutei um dos seus paciente em espera comentar para o outro que só insistia em “arrumar” os dentes pois podia ficar olhando para os olhos de minha mãe sei que olhei para ele e o mesmo fico em silencio pois no mesmo momento minha mãe saiu da sala de atendimento e me abraço dizendo um “Oooi filha! O que faz por aqui?”.  Eles me olharam e depois sorriram para Abby:

- Abby meu amorzinho que bom que você esta aqui também querida - Minha mãe se levantou e abraçou ela por um momento -Creio que saiba que hoje nossa Samantha faz 18 anos.

- Oi Dona Katherine fico feliz em ve-la - Abby coçou a cabeça e sorriu dando de ombros e me abraçando com um pequeno riso - Sim sim, Sammy esteve esperando por esse dia faz muito tempo e até me acordou pra vir pra cá passar o dia com ela.

- Sammy! Que coisa feia de se fazer - Meu pai se levantou e me abraçou - Parabéns querida você cresceu rápido, mas ainda vai continuar sendo minha única bebê, mas agora terá de ter mais responsabilidade pois junto dos dezoito anos vem..

- Ed não é hora do seu discurso querido - Mamãe interviu  fazendo com que eu me sentisse feliz por não ter de escutar os dizeres de meu pai tão cedo - Vamos dar a noticia para elas primeiro ai depois do jantar você dar o seu sermão.

Todos na sala riram com o dito de minha mãe, mas logo foi cessado quando meus pais voltaram a se sentar em um sofá e eu e Abby no outro, o silêncio reino por um tempo e quem quebro ele novamente foi minha mãe:

- Querida, você não é mais um criança e merece um presente descente, eu e seu pai estávamos analisando as coisas e pensamos muito sobre seu pedido de um viagem - Ela tocou a perna de meu pai que sorriu e olhou para mim fazendo sinal de positivo com a cabeça - E nós resolvemos te dar a viagem assim como pagar para Abby apesar dos pais dela protestarem e dizer que eles mesmos pagaram, mas como é um desejo seu que ela vá junto nada mais justo que eu e seu pai pagarmos.

Soltei um gritinho de alegria que fizeram meus pais arregalarem, abracei Abby e pulei com ela pela sala gritando coisas como “ Vamos viajar”, “Nos duas sozinhas por um mês” ou derivados disso, soltei a garota e abracei meus pais cada um um braço:

- Vocês são os melhores pais do mundo sabia ? - Eles me deram um beijo duplo no rosto e eu lhes soltei - Sério, prometo que serei a melhor filha daqui para frente…

- Querida, você já é - Papai tirou as passagens de avião de dentro do bolso da camisa e entendeu para mim e Abby - Só espero que sejam responsáveis já que não são mais criança

Meu pai suspirou, talvez ele estivesse repassando em sua mente o que eu poderia fazer ou deixar de fazer em uma viagem sozinha com a minha melhor amiga, mas deve ter sido interrompido quando mamãe bateu palmas indicando que todos nos devíamos nos mandar para a cozinha, tinha quase certeza de que ela havia trazido pizza já que conseguir sentir o cheiro de queijo derretido vindo de lá…