[Autobiografia] Tetsuya
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[Autobiografia] Tetsuya
A Salvação da Morte
Não é a toa que às vezes eu surto sem motivo algum... as pessoas me acham estranho, mas se conhecessem o meu passado, talvez tivessem fobia de mim. Não escolhi o sofrimento, eu diria que o sofrimento me escolheu, e infelizmente tenho que admitir que ele me cutuca sem pena, sem ao menos pensar em deixar em paz alguém com tantos problemas. Matar uma pessoa nunca seria fácil para mim, não para mim, e acho que a minha maldição seja o meu próprio espírito. E sinceramente, já estou quase cansando dele.
Minha história não é algo que alguém goste de ouvir, talvez porque seja uma história para assustar crianças, ou até adultos. Mas de qualquer jeito, não é uma simples história de terror, é a minha história de terror e eu tenho que aceitá-la, assim como tenho que aceitar que meu nome é Tetsuya.
Mesmo sendo uma criança, tenho um grande passado, conturbado, e ele começou a mudar apenas há dois anos, quando eu ainda não sabia a sensação de ter comigo um remorso tão grande, quando minha vida começou a ser assim tão confusa.
Era uma manhã de sexta-feira. Um dia comum, como qualquer outro, eu o começava treinando com o meu pai, porque além da academia ninja, eu tinha que ter uma atividade extra se quisesse realizar o meu sonho de ser tão poderoso quanto o meu pai, usando a vitalidade do nosso clã com tamanha maestria. Herdei do clã dele as mesmas habilidades, e tenho orgulho de ser Uzumaki.
Eu estava do lado de fora, no nosso próprio campo de treinamento, olhando para o céu azul de Suna. De algum modo meu pai havia conseguido arranjar grama para cobrir aquela areia toda, e se não fosse pelos ventos, a areia ao redor e a nossa casa tipicamente Sunagakuriana, eu não diria que estávamos morando em nossa vila. Ao meu lado havia três troncos cortados de tamanhos diferentes. Eles serviam para eu descontar toda a minha raiva em chutes e socos (na verdade, era principalmente para treinar, mas nunca fui realmente uma pessoa calma). Suspirava como sempre, sozinho, tentando achar um significado para tanto treinamento. Nunca vivi minha infância de verdade, meu pai parecia mais um militar e minha casa era um quartel onde tinha horário para tudo. Quando eu era criança, tinha horário até para eu ir ao banheiro! E se acha que isso é exagero, meu pai também fazia a minha mãe seguir certas ordens ridículas, como ir para o supermercado só em dias específicos, para controlar os gastos e comprar o necessário. Eu tinha certeza que meu pai tinha muito dinheiro guardado, às vezes eu pensava em roubá-lo e sair daquele inferno, mas eu pensava muito na minha querida mãe.
De repente, no meio dos suspiros, ouvi a voz da minha mãe gritando, falando coisas que nem davam para entender de tanto sofrimento que o timbre dela representava. Depois de alguns segundos, consegui entender o que ela dizia.
- Tetsuya! SOCORRO. Seu pai... Seu pai está ficando louco.
-MÃE. – falei, enquanto adentrava na minha casa. – O que está acontecendo?!
Eu ainda era uma criança, e mesmo já tendo noção das coisas, foi difícil ver minha mãe apanhar a socos e chutes do meu pai. Ele batia de uma forma tão cruel que eu comecei a chorar, dando gritos de dor pela minha mãe, por ver sangue pela sala, por ter o desgosto de ver quem me colocou no mundo gritando e chorando como uma criança, como eu. Tentei apartar, mas acabei só piorando. Ele começou a bater em mim com a bengala que ele levava para todos os lugares devido a sua deficiência na perna esquerda. Meu pai parecia bêbado, parecia não... Ele estava bêbado. Não consegui imaginar o motivo de alguém tão organizado se embriagar, e até hoje eu não sei o que aconteceu para ele ficar daquele jeito.
Ele não falava coisa alguma, simplesmente me batia, batia na minha mãe, e eu não podia fazer nada. A sorte era que já estava anoitecendo, e que ele não podia ficar nos agredindo para sempre. Foi para fora e começou a mancar para longe. Tentei consolar a minha mãe, enquanto ela tentava me deixar mais calmo. Nunca pensei que isso aconteceria, aliás, acho que ninguém pensaria que isso aconteceria. Nos braços da minha mãe, chorando junto com ela, eu sentia uma culpa enorme crescendo em mim. Eu havia treinado tanto para nada, não consegui proteger minha mãe, e por isso dali em diante eu me senti um lixo, vendo minha mãe se recuperando aos poucos, meu pai voltando já normal e pedindo desculpas com uma expressão que não parecia tão arrependida.
Certa manhã, quando acordei cedo com uma dor de cabeça estranha, como se ela estivesse ali só pra deixar o meu dia pior, ouvi meus pais discutindo na cozinha. Fiquei atrás da porta do meu quarto, vendo os dois apontando os dedos indicadores um para o outro e ouvindo os gritos. Acho que pensavam que eu estava dormindo, já que era quatro horas da manhã, mas eu não podia dormir com todo aquele barulho. No meio da madrugada eu havia escutado outra discussão, mas achei que era bobagem e voltei a dormir, porém naquele momento notei que meu pai tinha batido de novo na minha mãe. E não conseguindo conter as lágrimas, pude ver que ele pegou uma kunai, a apontando em direção a minha mãe. Finalmente conseguia deixar meus ouvidos atentos o suficiente para entender o que diziam.
- Ken, – falou a minha mãe - porque diabos está fazendo isso?! Nós temos uma família. Não tem que ser assim!
- Não, estou cansado de família. – falava meu pai enquanto se aproximava cada vez mais da mamãe com a Kunai, ela com os olhos apavorados. – Prefiro viver sozinho, e estou cansado de ter que saber todos os dias que criaturas tão desprezíveis vivem na minha casa.
Ele fechou os olhos, parecia calmo, mas também parecia cansado.
- NÃO, não vou deixar que as suas loucuras levem embora nossa família! Se está tendo problemas, eu e o Tetsuya podemos te ajudar com essas... essas...
- Paranóias?! – indagou o monstro, a interrompendo. - Não, eu já me decidi, não quero mais saber de família, esse amor nunca existiu, você deveria ter percebido que eu já estava cansado de você há meses. Mas não percebeu, porque você sempre foi uma idiota ingênua que só pensa na “família perfeita”. Agora... – deixou a kunai mais visível para mim. Foi aí que eu percebi que ele sabia que eu estava olhando aquela cena. – Isso tudo vai acabar. Adeus Yoko, foi uma péssima ideia te conhecer.
Ele olhou para mim, com um sorriso maléfico e eu fechei a porta com força. Pulei a janela, tentando escapar daquele lugar, mas eu não podia deixar a minha mãe morrer, mudei de ideia durante a corrida para fora do gramado e voltei, abrindo a porta que dava para a cozinha. Mas era tarde demais... Havia sangue por toda a cozinha, minha mãe estava viva, mas por pouco tempo.
- Tetsuya... meu filho...
- Mãe! –falei - V-você está bem?
- Já é tarde demais, meu filho. Eu te amo, e não posso deixar que esse idiota te faça mal.
Minha mãe pegou a kunai cheia de sangue que estava cravada no seu peito e me ofereceu. Não sei como ela não gritou, não sei como ela não reagiu àquela dor, mas não achei que seria a melhor hora para perguntar. Peguei a kunai e me esforcei para não olhar o sangue por muito tempo.
- Você será um ótimo ninja. Para mim, o melhor.
Mamãe sorriu para mim, com os seus olhos que antes eram os mais vivos que eu vi em toda minha vida, naquele momento se esforçando para ficarem abertos.
- Mãe... – falei, chorando e tentando conter meus gritos para não chamar a atenção do meu pai. – Você não vai morrer. Eu não vou deixar.
Ela fez um sinal de silêncio com o dedo e continuo sorrindo.
- Eu te amo.
Depois daquela frase, percebi que não adiantava mais fazer nada, ela iria embora logo, e eu só poderia aproveitar aquele momento. Dei um beijo na sua testa, depois de olhar para os lados para ter certeza que meu pai não estava perto e então vi a minha mãe dando o seu último suspiro.
- Eu também te amo, mãe. – não deveria mais chorar, e eu não chorei.
Senti os seus olhos ficarem mais felizes, assim como o seu sorriso fraco que se tornou mais forte, e então vi minha adorável mãe partindo. Não partindo pra depois voltar, ela não iria voltar. Eu sabia que ela fez o melhor dela, sempre foi uma mulher forte. Mas não pode suportar aquilo tudo. Ela precisava ir, não podia aguentar mais aquela dor.
Me levantei, com os olhos calmos, indo para o corredor em passos longos, os olhos com lágrimas, porém serenos.
A porta do meu quarto estava aberta, e pude ver meu pai debruçado na janela. Parecia tentar me achar em meio a tanta areia. Morávamos num lugar vazio, com casas distantes da nossa, e estava tudo escuro. Não sabia como ele me encontraria, e nem queria saber. Com a kunai em mãos, andei para perto dele e falei:
- Seu idiota.
Ele se virou. Provavelmente me empurraria e me daria um soco, mas eu fui mais rápido e dei um golpe contra o seu peito com a ponta da kunai, atingindo bem no coração.
Ele não parecia querer falar nada enquanto morria, simplesmente caiu da janela para o outro lado, sem gritos. A partir daí, fiquei órfão, mas era melhor que morrer.
- Me parece que... – eu falava e andava para fora, tentando achar as autoridades o mais rápido possível, mas naquele momento eu parei, só pra falar sozinho, coisa que eu fazia já há muito tempo. - As almas esta noite estão enlouquecendo.
Desde então, moro numa casa grande, que o tão bondoso Kazekage me deu. Fizemos um acordo, eu poderia ficar nela de graça até ter o meu próprio dinheiro. E assim que eu me tornasse Gennin poderia pagar um aluguel para viver nela até quando eu quisesse. A casa era perto da minha antiga, o que me dava a chance de visitar o meu lar anterior às vezes. Eu não quis ficar com ela, aquele lugar para mim se tornou o palco dos meus pesadelos, entenderam o que eu estava passando, e por isso me deixaram viver sozinho.
As pessoas que sabem da minha história – as poucas - parecem ter medo de mim, mas eu não me importo muito. Apesar de tudo sou feliz, e isso que realmente me importa, a minha felicidade.
Por acaso meu sonho já se realizou, eu consegui ficar mais forte que o meu pai, mas não era tarde demais pra sonhar novamente. Agora eu tinha o sonho de ser alguém importante. Minha mãe queria que eu fosse assim, o melhor ninja, e isso significa ser importante. Ela me deu o meu novo sonho, e a agradeço no seu túmulo por isso. E hoje em dia, não consigo mais ficar triste com facilidade, talvez porque o sofrimento tenha me moldado. Sou uma nova pessoa, tão forte quanto a minha querida mãe.
Tetsuya-
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